sexta-feira, 1 de julho de 2011

BUGANVÍLIA



Chamava-se Aída. De Verdi. Homenagem a mais popular ópera do autor e a gerações de sua família, composta de músicos e cantores talentosos. Ela mesma, a filha mais velha (já descontando o Laurindo, que se foi antes da hora, por conta de uma apendicite, com apenas dezesseis anos) do total de cinco irmãos artistas.

Sua mãe mesmo, que enviuvara quando o Aluísio tinha apenas três anos, dava aulas de piano durante todo o dia e tocava o instrumento à noite, nas sessões de cinema que, à época, ainda era mudo.

Desde muito cedo começou a trabalhar, por conta da morte do seu pai. E por ter herdado sua lindíssima voz, tornou-se a cantora mais popular da igreja e a professora de música mais disputada da cidade.

Casou-se com o Augusto, após ter ajudado sua mãe a criar os seus quatro irmãos. O marido foi um homem como quase todos os homens daquela época.

Teve três filhos. Amou-os acima de tudo. Teve sobrinhos, netos e bisnetos. Perdeu mãe, marido, todos os irmãos (ironicamente, segundo ela mesma, “a primogênita”) e também o seu filho mais velho.

E foi uma aconchegante tia-avó.

Contou-me tudo isso e outras inúmeras histórias. Mas lágrimas, vi em seus doces olhos apenas uma única vez...

“Sabe querida, sempre gostei das plantas. E quando morava em São Leonardo, eu tinha um pé de buganvília. Era o mais bonito da cidade e ocupava quase todo o muro da frente da minha casa. Era da cor bordeaux, você sabe qual cor é essa? Minhas vizinhas morriam de inveja!
Um dia, briguei com meu marido. Quando cheguei em casa, o pé de buganvília estava cortado”. [Juliana]

8 comentários:

  1. Acho que para as nossas vidas poderíamos mudar o final desta história... "Uma dia, briguei com o meu marido. Quando cheguei em casa plantei outro pé de bouganville, só que de outra cor!!"
    Te amo!!! e vale lembrar que o umbigo do nosso pequenino está plantado em um pé de bouganville bordeaux na casa da titia!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  2. Também acho que sim titia amada do meu coração e do coração da mamãe! Mas quis ser fiel à história ocorrida... que para mim diz tanto... sobre pessoas, respeito, dores provocadas... te amamos!

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  3. Pois é Juzinha, as dores da vida, inevitáveis, a gente aguenta...
    Mas crueldade gratuita é dura de suportar. Ainda mais quando dirigidas as inefáveis coisas que amamos.
    Beijos.

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  4. bjos mil para nossa amada Tia!!!!!

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  5. Que história comovente, Juca! Você conseguiu transmitir a dor da sua tia Aída... Lendo hoje o seu texto e as abinhas de Marina, mais uma vez senti um orgulho danado desta colcha bonita, que a gente vai construindo aos pouquinhos, com todo cuidado e com todo o bordado! Sds!

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  6. Tão doce, tão bem escrito!
    E essa vontade de plantar bem rápido um pé de buganvília para a tia Aída!
    E passar uma descompostura no tio me esqueci o nome!

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  7. Querida Juliana,
    Que delicadeza sua comovente narrativa da história de ‘Tia Aída’: das lembranças de sua rica vivência e de seus saudosos antepassados.
    Escrever é um desafio de interpretação da alma e dos sentimentos humanos, em sua permanente propulsão e intensidade.
    Linda a harmonia do título e da foto com sua elegância descritiva!
    Venho, de vez em quando, me abastecer nesta ‘Colcha de Retalhos’. Você é, e continua sempre sendo, uma fonte inesgotável de minha mais sincera admiração!
    Com amizade e ternura,
    Tarcízio

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  8. Juliana,querida,
    você me reportou para uma época em que eu era mais feliz e não sabia... Eu tive a felicidade de morar bem pertinho da "Tia Aída", ser uma de suas alunas de piano e acordeon(como dizíamos) e sou testemunha da fidedignidade de seu retalho tão bem elaborado. Permita-me orgulhar-me de você pelo seu talento, delicadeza e esta sua linda forma de gratidão... Afinal, sou meio cúmplice de você estar por aqui, fazendo tão bem a sua a sua parte desta linda COLCHA DE RETALHOS. Um grande abraço.

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