RETALHOS


2011- DEZEMBRO


Fantástico este vídeo! Impressionante como o mundo todo, malimitando os Estados Unidos, deixaram o capitalismo e o que ele tem de pior tomarem conta não só do nosso cotidiano mas do próprio sentido das nossas vidas! Revolucionemos, caros amigos! Não com Estados autoritários, mas com consciência e mudanças de hábitos!





2011 - NOVEMBRO





Excerto de O Lobo das Estepes - Hermann Hesse


"A maioria dos homens não quer nadar antes que o possa fazer. Não é engraçado? Naturalmente, não querem nadar. Nasceram para andar na terra e não para a água. E, naturalmente, não querem pensar: foram criados para viver e não para pensar! Isto mesmo! E quem pensa, quem faz do pensamento sua principal atividade, pode chegar muito longe com isso, mas, sem dúvida estará confundindo a terra com a água e um dia morrerá afogado".





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ORTOGRAFIA

Costumava-se distinguir entre creação e criação.
Exemplo: a creação de um poema, a criação de galinhas. Era limpo e nítido. Nada de confusões. Mas agora que tudo é um, como diziam os clássicos, ficou irremediavelmente perdido o que escrevi, um dia:
“Deus creou o mundo e o diabo criou o mundo”.
E agora? Para explicar tudo isso em mais palavras o que seria um verdadeiro crime – imaginem os circunlóquios que eu teria de fazer... Não faço!

 

(Ler Mário Quintana é poder, de novo, respirar...)
 Retirado do livro Caderno H, de Mário Quintana, página 245.



2011 - OUTUBRO

ATÉ PENSEI - Chico Buarque de Hollanda.

Junto à minha rua havia um bosque
Que um muro alto proibia
Lá todo balão caia, toda maçã nascia
E o dono do bosque nem via

Do lado de lá tanta aventura
E eu a espreitar na noite escura
A dedilhar essa modinha
A felicidade morava tão vizinha
Que, de tolo, até pensei que fosse minha

Junto a mim morava a minha amada
Com olhos claros como o dia
Lá o meu olhar vivia
De sonho e fantasia
E a dona dos olhos nem via

Do lado de lá tanta ventura
E eu a esperar pela ternura
Que a enganar nunca me vinha
Eu andava pobre, tão pobre de carinho
Que, de tolo, até pensei que fosses minha

Toda a dor da vida me ensinou essa modinha
Que, de tolo, até pensei que fosse minha...




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"Mais triste que morrer é deixar de viver.
É o que acontece se não se deixa surpreender."
(Poly Jeha)

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"O meu olhar

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo..."

(Alberto Caeiro, em O Guardador de Rebanhos - Fernando Pessoa)

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Guimarães Rosa, no Grande Sertão, sobre a mudança de nome das coisas:

"Perto de lá tem Vila Grande – que se chamou Alegres – o senhor vá ver. Hoje, mudou de nome, mudaram. Todos os nomes eles vão alterando. É em senhas. São Romão todo não se chamou de primeiro Vila Risonha? O Cedro e o Bagre não perderam o ser? O Tabuleiro-Grande? Como é que podem remover uns nomes assim? O senhor concorda? Nome de lugar onde alguém já nasceu, devia de estar sagrado. [...] Precisava de se ter mais travação. Senhor sabe: Deus é definitivamente; o demo é o contrário Dele…"


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Saudades
Saudades! Sim... Talvez... e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão!

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!  - Florbela Espanca

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COMO LAVAR ROUPA:
PRIMEIRO PASSO: SEPARAR AS ROUPAS POR COR/TECIDO
a)     Separar as roupas:              Brancas X Claras X Escuras X Vermelhas;
b)     Separar os tecidos: Finos (lavar à mão) X Industrializados X Grossos X que soltam pelos (por exemplo, lã);
c)     Separar roupa íntima: calcinha, cueca e meia;
d)     Separar o que deve ser lavado à mão e o que deve ser lavado à máquina.
SEGUNDO PASSO: PREPARAR AS ROUPAS QUE SERÃO LAVADAS Á MÁQUINA
·          verificar roupa por roupa para ver se ficou alguma coisa nos bolsos e se há manchas, separando o que precisará ser esfregado à mão;
·          colocar de molho, por quinze minutos, as roupas, separadamente, (grupos que serão lavados juntos). As roupas escuras e vermelhas NÃO DEVEM ficar de molho, pois durarão menos, pelo fato de perderem a cor mais rápidamente. Roupas brancas e claras podem ser colocadas de molho no sabão em pó (todos possuem alvejante, portanto, tiram a cor das roupas). Roupas coloridas, mas não escuras (por exemplo, lilás, azul claro) devem ser colocadas de molho no sabão de coco líquido ou em pó.
·          esfregar: o local das manchas, debaixo do braço e a gola das camisas e camisetas, a barra das calças e dos vestidos longos, meias/cuecas/calcinhas. Esfregar com sabão de coco em barra e enxaguar, senão, a roupa, ao ser colocada na máquina, pode manchar. Se a roupa for clara e a mancha não sair com o sabão de coco, tirar com sabão em pó. Mancha de gordura deve ser esfregada com detergente de cozinha ou sabonete, de preferência Lux Branco.
·          Colocar os grupos de roupas BRANCAS E CLARAS (separadamente, serão dois ciclos de lavagem) na máquina. Se a máquina não tiver misturador automático, NÃO UTILIZAR aquele recipiente de colocar sabão/amaciante: ele joga o produtor abruptamente nas roupas, podendo manchá-las. Deixe a máquina encher um pouco e jogue o sabão em pó, na quantidade necessária para a quantidade de roupa a ser lavada: veja na embalagem do sabão a quantidade. Quando o sabão misturar-se à água você pode colocar as roupas e deixar a máquina trabalhar. Quando chegar o ciclo do amaciente, proceda da mesma maneira: espere a máquina encher de água e jogue o amaciante nela, misturando com cuidado, se sua máquina não tiver o misturador automático.
·          Colocar as roupas íntimas para lavar, conforme descrito acima.
·          Colocar o grupo de roupas ESCURAS na máquina: para roupas escuras (inclusive jeans) não use sabão em pó com alvejante: use sabão de coco em pó ou líquido e uma colher de sopa de sal, na água. Utilize a mesma técnica descrita no item “d”, inclusive para a colocação do sabão e do amaciante;
·          Colocar o grupo de roupas VERMELHAS na máquina e proceder como descrito no item “e”.
TERCEIRO PASSO: ROUPAS QUE DEVEM SER LAVADAS À MÃO:
·          proceder como descrito nas letras a, b, c do item acima, com mais capricho, já que toda a roupa deverá ser lavada à mão. Prestar atenção nos tecidos que não podem ser ‘torcidos’, mas apenas ‘espremidos’ para tirar a água: lã, linha, renda e similares. Via de regra, essas roupas não podem ser penduradas para secar, mas colocadas em uma superfície plana.
·          Em uma bacia colocar água e amaciante: passar na água primeiro as roupas brancas, depois as claras e depois as escuras e vermelhas. Pode aproveitar a mesma água, ao menos que após as escuras ela tenha ficado muito turva, quando é melhor trocar antes de passar as vermelhas. Torcer ou espremer, e colocar para secar dependuradas ou deitadas, dependendo do tecido.
QUARTO PASSO: COLOCAR PARA SECAR
·          as roupas saem da centrífuga da máquina muito secas. Esticá-las e arrumar os bolsos antes de colocar no varal ajuda muito na hora de passar. Se forem camisas sociais, é bom já colocá-las no cabide (de plástico transparente ou branco para não correr o risco de manchar), o que também facilita muito na hora de passar.
·          b) atenção para as roupas que não podem ser penduradas/ torcidas, via de regra as que são lavadas à mão.
LAVAR PANOS DE LIMPEZA/TOALHAS DE BANHO E DE MESA:
·          toalhas de banho: ver onde há manchas e esfregar, como descrito nos itens a, b, c do número I, até as manchas saírem. Em especial as toalhas de mão precisam ser esfregadas, de preferência com sabonete, para a retirada da “sombra” de gordura das mãos, que fica sobre elas. Toalhas escuras devem ser lavadas em separado, conforme a técnica das roupas escuras, a fim de que durem mais;
·          toalhas de prato e bate mão: esfregar como descrito nos itens a, b, c do número I, até as manchas saírem, de preferência com sabonete ou detergente de cozinha, por causa da gordura. É bom deixar ao sol um pouco para “quarar”. De tempos em tempos, se quiser e por causa da gordura, pode fervê-las na água com sal após serem lavadas, em uma panela: saem as manchas mais difíceis e todo o cheiro de gordura. Depois de ferver, enxaguar, passar no amaciante e colocar para secar.
·          Toalhas de mesa: lavar como se lava toalhas de banho, sabendo que não devem ser lavadas junto, por higiene e por causa do tecido: toalhas só devem ser lavadas com toalhas, pois deixam ‘bolinhas’ nos outros tecidos.
·          Panos de chão/tapetes: não devem ser lavados na máquina, pois deixam ‘areia’ nela, danificando a máquina e outras roupas a serem ali posteriormente lavadas. Eles devem ser lavados e esfregados com sabão e pó e água sanitária. Depois de limpos e enxaguados, devem ser colocados de molho no sabão de pó com água sanitária e deixados para ‘quarar’ por pelo menos quarenta minutos. Depois devem ser novamente esfregados e colocados para secar. 
DICAS:
·          Água sanitária não deve ser utilizada, exceto para lavar panos de chão e a própria máquina de lavar.
·          Tecidos grossos (calça jeans, por exemplo), especialmente se forem ser lavados na máquina junto com outras roupas (camisetas de algodão grosso, por exemplo) devem ser colocados do avesso, para que seus botões não danifiquem outras roupas.
·          O uso do sal na água para lavagem de roupas escuras as conserva por muito mais tempo.
·          Nada substitui o esfregar manual: a máquina de lavar é um auxiliar, não um substituto da pessoa que lava a roupa.
·          Para lavar a máquina de lavar roupa (uma vez por semana), ela deve ser colocada no ciclo máximo, com um litro de água sanitária ou cloro, para bater, sem nada dentro.
·          Para limpar o ferro de passar roupa: esquentá-lo e passar uma vela até derreter um pouco da parafina. Limpar com um bombril seco e limpo.


2011 - SETEMBRO

"Se malandro soubesse como é bom ser honesto seria honesto por malandragem" (autor desconhecido)

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A educação e os valores modernos (Kino)




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SÓCRATES
(texto do Frei Betto que eu gostaria de ter escrito!)

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: "Não foi à aula?"
Ela respondeu:"Não,tenho aula à tarde".
Comemorei: "Que bom; então, de manhã, você pode brincar, dormir até mais tarde".
"Não", retrucou ela, "tenho tanta coisa de manhã..."
"Que tanta coisa?", perguntei.
"Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina", e começou a elencar seu programa de garota robotizada.
Fiquei pensando: "Que pena", a Daniela não disse: "Tenho aula de meditação!"
Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.
Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito.
Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: "Como estava o defunto? "Olha uma maravilha, não tinha uma celulite!" Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
A palavra hoje é "entretenimento"; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.
Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: "Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!" O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.
O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, autoestima, ausência de estresses Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping Center. É curioso: a maioria dos shoppings centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: "Estou apenas fazendo um passeio socrático." Diante de seus olhares espantados, explico: "Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:"
- "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz !"

2011 - AGOSTO

O HAVER 
(contribuição da minha querida sobrinha Thaís, que me mandou esse lindo poema do Vinícius, que eu não conhecia)

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
 Perdoai!eles não têm culpa de ter nascido...


Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo que existe.


Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.


Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.


Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história...


Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e do mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.


Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.


Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.


Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante


E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.


Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.


Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...


Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens. [Vinícius de Moraes]


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Medusa Marinara: Vik Muniz


O tempo é a cabeça da Medusa e, ao final, sempre nos petrifica.
(Marina Procópio)



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A Juventude é uma coisa maravilhosa. Que pena desperdiçá-la em jovens.
(George Bernard Shaw).









2011 - JULHO

... o senso comum é demasiadamente comum para ser considerado um verdadeiro senso...
(José Saramago, no livro “O Homem Duplicado”, pág. 66)


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Homenagem aos meus avós, Maria e Hilário:
"Pobre ou rico, não importa. Gosto mais é da companhia de gente simples. É com elas que fico à vontade, que solto fácil meu riso, que mais aprendo. Foi sempre assim." (Poly Jeha)


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Recicle - Saquinhos de papel - Horigami




2011 - JUNHO







Quem disse que do amor
O tempo apaga a chama?
Se com o tempo abarca o amor...
Até ao que não se ama.
[Marina Procópio]









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O que escuto por aqui?
Se visão ouvisse
teu olho escutava
o que escuto por aqui.

No alvorecer, por todo lado, galo e galinha,
de manhãzinha, passarinho e ararinhas palrando no meu quintal,
no calor da tarde, descanso,
no máximo, gato, cachorro ou zumbido de mosquito perdido.

De tardinha, a revoada e o piar despedido dos pásssaros,
no anoitecer, cigarra e grilo,
de noite, coachar de sapo,
por toda a madrugada, paz de céu estrelado.

Dia ou outro, vento balançando as folhas da minha mangueira,
pingos de chuva banhando a terra da minha horta.
E todos os dias, pela boca da Cida, as histórias da roça.

De mim, meu urbano silêncio.
Me embala
essa música rara. 

[Poly Jeha, Minas Novas, mai/2011]


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Fomos rever o poste.
O mesmo de quando a gente brincava de pique
e de esconder.
Agora ele estava tão verdinho!
O corpo recoberto de limo e borboletas.
Eu quis filmar o abandono do poste.
O seu estar parado.
O seu não ter voz.
O seu não ter sequer mãos para se pronunciar com
as mãos.
Penso que a natureza o adotara em árvore.
Porque eu bem cheguei de ouvir arrulos de passarinhos
que um dia teriam cantado entre as suas folhas.
Tentei transcrever para flauta a ternura dos arrulos.
Mas o mato era mudo.
Agora o poste se inclina para o chão – como alguém
que procurasse o chão para repouso.
Tivemos saudades de nós.
(Poema nº 8 da 1ª parte – Canção do ver, do livro Poemas Rupestres, de Manoel de Barros)





2011 - MAIO



ALFABETIZAÇÃO
Eva viu a uva.
Rabujou a raposa: restolhos!
Eva viu a maçã.
Sibilou a serpente: são suas.
E perdemos para sempre o paraíso. [Marina Procópio]

...


VELHA HISTÓRIA
      Era uma vez um homem que estava pescando, Maria. Até que apanhou um peixinho! Mas o peixinho era tão pequenininho e inocente, e tinha um azulado tão indescritível nas escamas, que o homem ficou com pena. E retirou cuidadosamente o anzol e pincelou com iodo a garganta do coitadinho. Depois guardou-o no bolso traseiro das calças, para que o animalzinho sarasse de quente. E desde então ficaram inseparáveis. Aonde o homem ia, o peixinho o acompanhava, a trote, que nem um cachorrinho. Pelas calçadas. Pelos elevadores. Pelos cafés. Como era tocante vê-los no "17" - o homem grave, de preto, com uma das mãos segurando a xícara de fumegante moca,  com a outra lendo o jornal, com a outra fumando, com a outra cuidando do peixinho, enquanto este, silencioso e levemente melancólico, tomava laranjada por um canudinho especial...
      Ora, um dia o homem e o peixinho passeavam à margem do rio onde o segundo dos dois fora pescado. E eis que os olhos do primeiro se encheram de lágrimas. E disse o homem ao peixinho:
      "Não, não me assiste o direito de te guardar comigo. Por que roubar-te por mais tempo ao carinho do teu pai, da tua mãe, de teus irmãozinhos, da tua tia solteira? Não, não e não! Volta para o seio da tua família. E viva eu cá na terra sempre triste!..."
      Dito isto, verteu copioso pranto e, desviando o rosto, atirou o peixinho n'água. E a água fez um redemoinho, que depois foi serenando, serenando...até que o peixinho morreu afogado... [Mário Quintana]


2011 - ABRIL


Quem me dera fosse mil
Fosse e não fosse
Fosse um, me fosse
Meio mil meio eu.

[Poly Jeha, out/2006]

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Em épocas remotas, as mulheres se sentavam na proa das canoas e os homens na popa. As mulheres caçavam e pescavam. Elas saíam das aldeias e voltavam quando podiam ou queriam. Os homens montavam as choças, preparavam a comida, mantinham acesas as fogueiras contra o frio, cuidavam dos filhos e curtiam as peles de abrigo.
Assim era a vida entre os índios onas e os yaganes, na Terra do Fogo, até que um dia os homens mataram todas as mulheres e puseram as máscaras que as mulheres tinham inventado para aterrorizá-los.
Somente as meninas recém-nascidas se salvaram do extermínio. Enquanto elas cresciam, os assassinos lhes diziam e repetiam que servir aos homens era seu destino. Elas acreditaram. Também acreditaram suas filhas e as filhas de suas filhas. (Trecho do Livro “Os Nascimentos” - volume 1 da trilogia “Memória do Fogo”, de Eduardo Galeano)



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2011 - MARÇO




Lamento pra Ararinha Azul


O mato verde está blue
O mundo blue está baço
Que é da ararinha azul?
Murcham-me os olhos, de cansaço.

[Marina Procópio]









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Dormir feito criança
É coisa esquecida na infância - [Marina Procópio]


2011 - FEVEREIRO

Como eu disse na abinha "Leia", falando da obra-prima de Jorge Amado, segue um dos trechos de pura poesia de Terras do Sem Fim, que vale a leitura:

Era uma vez três irmãs

"Era uma vez três irmãs: Maria, Lúcia, Violeta, unidas nas correrias, unidas nas gargalhadas Lúcia, a das negras tranças. Violeta, a dos olhos mortos; Maria, a mais moça das três. Era uma vez três irmãs, unidas no seu destino.

Cortaram as tranças de Lúcia, cresceram seus seios redondos, suas coxas como colunas, morenas, cor de canela. Veio o patrão e a levou. Leito de cedro e penas, travesseiro, cobertores. Era uma vez três irmãs.

Violeta abriu os olhos. seus seios eram pontudos, grandes nádegas em flor, ondas no caminhar. Veio o feitor e a levou. Cama de ferro e de crina, lençois e a Virgem Maria. Era uma vez três irmãs.

Maria, a mais moça das três, de seios bem pequeninos, de ventre liso e macio. Veio o patrão, não a quis. Veio o feitor, não a levou. Por último veio Pedro, trabalhador da fazenda. Cama de couro de vaca, sem lençol, sem cobertor, nem de cedro, nem de penas. Maria com seu amor.

Era uma vez três irmãs: Maria, Lúcia, Violeta, unidas nas gargalhadas, unidas nas correrias. Lúcia com seu patrão, Violeta com seu feitor e Maria com seu amor. Era uma vez três irmãs, diversas no seu destino.

Cresceram as tranças de Lúcia, caíram seus seios redondos, suas coxas como colunas, marcadas de roxas marcas. Num auto pela estrada cadê o patrão que se foi? Levou a cama de cedro, travesseiros, cobertores. Era uma vez três irmãs.

Fechou os olhos Violeta com medo de olhar em torno; seus seios bambos de pele, um filho pra amamentar. No seu cavalo alazão, o feitor partiu um dia, nunca mais há de voltar. Cama de ferro se foi. Era uma vez três irmãs.

Maria, a mais moça das três, foi com seu homem pro campo, pras plantações de cacau. Voltou do campo, era a mais velha das três. Pedro partiu um dia, não era patrão nem feitor. Partiu num pobre caixão, deixou a cama de couro e Maria sem seu amor. Era uma vez três irmãs.

Cadê as tranças de Lúcia, os seios de Violeta, cadê o amor de Maria?

Era uma vez três irmãs numa casa de putas pobres. Unidas no sofrimento, unidas no desespero, Maria, Lúcia, Violeta, unidas no seu destino".





2010 - DEZEMBRO

Próprio do espírito sorumbático é ficar sempre calado. Tagarelar é o encanto e a arte de viver (Schopenhauer).


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Serra da Boa Esperança – Lamartine Babo

Serra da Boa Esperança,
Esperança que encerra
No coração do Brasil
Um punhado de terra
No coração de quem vai,
No coração de que vem,
Serra da Boa Esperança,
Meu último bem

Parto levando saudades,
Saudades deixando,
Murchas, caídas na serra,
Bem perto de Deus
Oh, minha serra,
Eis a hora do adeus
Vou-me embora
Deixo a luz do olhar
No teu luar
Adeus!

Levo na minha cantiga
A imagem da serra
Sei que Jesus não castiga
Um poeta que erra
Nós, os poetas, erramos
Porque rimamos, também
Os nossos olhos nos olhos
De alguém que não vem

Serra da Boa Esperança,
Não tenhas receio,
Hei de guardar tua imagem
Com a graça de Deus!
Oh, minha serra,
Eis a hora do adeus,
Vou-me embora
Deixo a luz do olhar
No teu olhar
Adeus!



2010 - NOVEMBRO

Tristeza no Céu

No céu também há uma hora melancólica.
Hora difícil, em que a dúvida penetra as almas.
Por que fiz o mundo? Deus se pergunta
e se responde: Não sei.

Os anjos olham-no com reprovação,
e plumas caem.

Todas as hipóteses: a graça, a eternidade, o amor
caem, são plumas.

Outra pluma, o céu se desfaz.
Tão manso, nenhum fragor denuncia
o momento entre tudo e nada,
ou seja, a tristeza de Deus - Carlos Drummond de Andrade.


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Literato cantabile

Agora não se fala mais
toda palavra guarda uma cilada
e qualquer gesto é o fim
do seu início; 

Agora não se fala nada 
e tudo é transparente em cada forma 
qualquer palavra é um gesto 
e em sua orla 
os pássaros de sempre cantam assim: 
do precipício: 
a guerra acabou 
quem perdeu agradeça 
a quem ganhou. 

Não se fala. não é permitido 
mudar de idéia. é proibido. 
não se permite nunca mais olhares 
tensões de cismas crises e outros tempos 
está vetado qualquer movimento 
do corpo ou onde que alhures. 

Toda palavra envolve o precipício 
e os literatos foram todos para o hospício. 
e não se sabe nunca mais do fim. agora o nunca. 
agora não se fala nada, sim.
fim, a guerra acabou 
e quem perdeu agradeça a quem ganhou.

Agora não se fala nada
e tudo é transparente em cada forma
qualquer palavra é um gesto
e em sua orla
os pássaros de sempre cantam
nos hospícios.

Você não tem que me dizer
O número do mundo deste mundo
Não tem que me mostrar
A outra face
Face ao fim de tudo

Só tem que me dizer
O nome da república ao fundo
O sim do fim
Do fim de tudo
E o tem do tempo vindo;

Não tem que me mostrar
A outra mesma face ao outro mundo
(não se fala. não é permitido:
mudar de idéia. É proibido
não se permite nunca mais olhares
tensões de cismas crises e outros tempos
está vetado qualquer movimento - Torquato Neto


2010 - SETEMBRO

Amei em cheio
meio amei-o
meio não amei-o - P. Leminski


2010 - AGOSTO


PREFÁCIO
Assim é que elas foram feitas
todas as coisas sem nome.
Depois é que veio a harpa
e a fêmea em pé.
Insetos errados de cor caiam no mar.
A voz se estendeu na direção da boca.
Caranguejos apertavam mangues.
Vendo que havia na terra
dependimentos demais
E tarefas muitas
Os homens começaram a roer unhas.
Ficou certo pois não
Que as moscas iriam iluminar
o silêncio das coisas anônimas.
Porém, vendo o Homem
que as moscas não davam conta de
iluminar o silêncio das coisas anônimas -
Passaram essa tarefa para os poetas.  -  Manoel de Barros



2010 - JULHO


Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro, 
E a liberdade pequena  -  Ferreira Gullar



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2010 - JUNHO

Por que o dia-a-dia
é tão sem poesia?   -   [Marina Procópio]