SERVIDÃO HUMANA - Willian Somerset Maughan - 1915
Esse livro maravilhoso, que li há muitos anos atrás ( e tenho que reler), veio-me a mente agora, talvez por eu estar pensando nas forças ocultas que regem nossa vida e destino. É disso que ele trata, com maestria, quando conta a história de Philip Carey, estudante de medicina que, por ser manco, sofre rejeição social e das consequência do fato quando ele se enamora de Mildred, perdendo o que lhe resta de sua dignidade humana.
Consagrados, iluminem nossa alma! Leiam! Literatura boa é sempre um alívio ao coração...
Florbela Espanca – Poesia completa
Portuguesa de vida breve. Trinta e seis anos. Poemas fortes tendo como temas amor latente, solidão, tristeza, saudade, sedução e o desejo. Sentimentos muito a frente de seu tempo. Talvez por isso põe fim à vida. Mais uma artista que parte mais cedo deixando um vazio enorme em seu lugar!
A sombra do vento – Carlos Ruiz Safón: Ao terminar a leitura deste livro me senti como uma viúva que lamenta a perda do seu querido companheiro! Adoro os livros que me despertam esta sensação e “A sombra do vento” é um destes livros. A trama é envolvente e cheia de surpresas. A narrativa tem um ritmo eletrizante e é escrita em uma prosa ora poética, ora irônica. Ambientado na Barcelona franquista da primeira metade do século XX, o romance de Zafón é uma obra sedutora e impossível de largar. Além de ser “uma grandiosa homenagem ao poder místico dos livros, é um verdadeiro triunfo da arte de contar histórias”.
O TÚNEL
"O Túnel, primeira e única novela produzida pelo argentino Ernesto Sabato, narra a trajetória profundamente solitária do artista plástico Juan Pablo Castel. Como o homem contemporâneo, o protagonista deste livro se oculta e se afasta da convivência humana, refugiado no interior de seu próprio túnel.
Da sua quase perfeita incomunicabilidade, ele vê de relance Maria Iribarne, totalmente fascinada diante de um quadro exposto pelo pintor que, não por acaso, retrata a própria situação de ambos. Na pintura, uma delicada jovem, diante do oceano, é entrevista pela fresta de uma janela quase completamente cerrada.
É assim que Castel lança seu olhar sobre a garota, talvez percebendo em sua presença a oportunidade de transcender sua solidão, ou conscientizando-se do quanto a reclusão é presente em sua existência. De qualquer forma, ela se torna para ele uma obsessão, e o artista a busca incansavelmente em meio à população de Buenos Aires.
(...)
Os personagens deste livro são símbolos do escudo protetor quase completamente impermeável que cada ser tece a sua volta, nele se abrigando como se fosse um casulo inviolável e seguro. Este mecanismo impede a interação entre as pessoas, a geração de vínculos duradouros, a vivência da afetividade.
Paralelamente ao ângulo afetivo, esta obra também aborda o processo criativo, através do qual pode ser possível vencer o isolamento. Afinal, é justamente no momento da revelação dos frutos do exaustivo trabalho artístico do pintor, que surge Maria, a única mulher a concentrar toda sua atenção em uma obra de Castel, e que parece realmente entender o seu significado."
(...)
(In: Site InfoEscola, por Ana Lúcia Fontana).
Série O Conquistador, de Conn Iggulden:
O Conquistador I - O Lobo das Planicies
O Conquistador II - Os Senhores do Arco
O Conquistador III - Os Ossos das Colinas
Sempre gostei de romances históricos. É uma forma leve e divertida de aprender, sem perceber! A narrativa é ágil e fácil e a história muito interessante, especialmente para nós, ocidentais, que conhecemos tão pouco do oriente! Boa leitura!
JUST KIDS (Patti Smith) - Na fervilhante década de 60, Patti Smith e Robert Mapplethorpe se conhecem e se apaixonam. Com pouco mais de 20 anos, eles passam a morar juntos no Brooklyn e depois no famoso Chelsea Hotel. Compartilhando experiências e encorajando-se mutuamente no fascinante mundo da poesia, do rock 'n' roll, das artes plásticas e da fotografia, acabam encontrando juntos a trilha da arte. "Just Kids" ou "Só Garotos" em português, livro prometido por Patti a Robert em seu leito de morte, é uma emocionante história de amor e arte, que vale cada minuto da leitura. Lindo de morrer!
PAULO LEMINSKI
Mestiço de polaco com negra, este curitibano morto em 1989 é meu poeta preferido. Criador de poemas curtos, de criatividade sem limites, foi um dos responsáveis pela divulgação do Haicai no Brasil. Humor, contestação, sonoridade são facilmente percebidos em seus escritos. Um de seus livros que mais gosto e indico é “Caprichos e Relaxos” de onde foram transcritos os poemas abaixo.
que tudo passe
passe a noite
passe a peste
passe o verão
passe o inverno
passe a guerra
e passe a paz
passe o que nasce
passe o que nem
passe o que faz
passe o que faz-se
que tudo passe
e passe muito bem
eu
tão isósceles
você
ângulo
hipóteses
sobre meu tesão
teses
sínteses
antíteses
vê bem onde pises
pode ser meu coração
Cecília Meireles
O nome de Cecília Meireles já é, em si, um poema. Seu lirismo, a meu ver tão absolutamente feminino, tem a delicadeza do brilho de um anel ou de unhas recém-pintadas e seu objeto. Deixo aqui um dos poemas do livro Mar Absoluto, belíssimo, publicado em 1945. Leia todos os outros.
COMTEMPLAÇÃO
Não acuso. Nem perdôo.
Nada sei. De nada.
Contemplo.
Quando os homens apareceram,
eu não estava presente.
Eu não estava presente,
quando a terra se desprendeu do sol.
Eu não estava presente,
quando o sol apareceu no céu.
E, antes de haver o céu,
Eu não estava presente.
Como hei de acusar ou perdoar?
Nada sei.
Contemplo.
Parece que às vezes me falam.
Mas também não tenho certeza.
Quem me deseja ouvir, nestas paragens
onde todos somos estrangeiros?
Também não sei com segurança, muitas vezes,
da oferta que vai comigo, e em que resulta,
pois o mundo é mágico!
Tocou-se o Lírio, e apareceu um Cavalo Selvagem.
E um anel no dedo pode fazer desabar da lua um temporal.
Já vês que me enterneço e me assusto,
entre as secretas maravilhas.
E não posso medir todos os ângulos do meu gesto.
Noites e noites, estudei devotamente
nossos mitos, e sua geometria.
Por mais que me procure, antes de tudo ser feito,
eu era amor. Só isso encontro.
Caminho, navego, vôo,
- sempre amor.
Rio desviado, seta exilada, onda soprada ao contrário,
- mas sempre o mesmo resultado: direção e extase.
A beira dos teus olhos,
por acaso detendo-me,
que acontecimentos serão produzidos
em mim e em ti?
Não há resposta.
Sabem-se os nascimentos
quando já são sofridos.
Tão pouco somos, - e tanto causamos,
com tão longos ecos!
Nossas viagens têm cargas ocultas, de desconhecidos vínculos.
Entre o desejo de itinerário, uma lei que nos leva
age invisível e abriga
mais que o itinerário e o desejo.
Que te direi, se me interrogas?
As nuvens falam?
Não. As nuvens tocam-se, passam, desmancham-se.
Às vezes, pensa-se que demoram, parece que estão paradas...
- Confundiram-se.
E até se julga que dentro delas andam estrelas e planetas.
Oh, aparência... Pode talvez andar um tonto pássaro perdido.
Voz sem pouso, no tempo surdo.
Não acuso nem perdôo.
Que faremos, errantes entre as invenções dos deuses?
Eu não estava presente, quando formaram
a voz frágil dos pássaros.
Quando as nuvens começaram a existir,
qual de nós estava presente?
TRAVESSURAS DE MÃE
Ganhei do meu amigo Tarcízio, que sempre adivinha as coisas mais maravilhosas para me presentear! E esse presente, veio com uma carinhosa dedicatória, da própria autora, de quem sempre gostei como atriz. Sua energia me inspira “conteúdo”. E o seu livro é deliciosamente cotidiano, além de divertido, sem ser frívolo. Para quem tem filhos ou os planeja ter (mas não só para eles!) é uma ótima e leve leitura, que nos aproxima por nos mostrar tão semelhantes.
TRILOGIA MILLENNIUM
Eu e Juliana, completamente enfeitiçadas, indicamos a leitura dos livros da Trilogia Millennium. O autor, Stieg Larsson – 1954/2004), era especialista na atuação das organizações de extrema direita da Suécia além de fundador e editor-chefe da revista sueca Expo, que denuncia grupos neofacistas e racistas. Ele cria uma maravilhosa obra que retrata a sociedade sueca demonstrando com clareza que temas como discriminação, prostituição, preconceito e corrupção não estão presentes apenas em países do chamado terceiro mundo. Formada, na sequência, pelos volumes: Os homens que não amavam as mulheres, A menina que brincava com fogo e A rainha do castelo de ar são garantia de momentos de intensas emoções.
TEOGONIA (HESÍODO) - Estudo e Tradução de Jaa Torrano.
Este foi um dos livros mais fantásticos que eu li, nos idos anos de 1993, quando comecei a cursar Letras.O trabalho de Jaa Torrano sobre a poesia de Hesíodo nos dá a chave para a compreensão do sentido da simbologia mítica e de como, por meio dos mitos, o homem, como ensina Torrano, diz o que não deve e não pode ser dito, quer por ser motivo de horror (a morte, o tempo) , quer por ser objeto da mais sublime vivência (o sagrado). Voltar-se para a Teogonia é encontrar-se com o arcaico e profundo de nós mesmos.
TERRAS DO SEM FIM (Jorge Amado) - Melhor companhia eu não poderia ter tido na viagem que fiz à Bahia nestas férias de fim de ano. Este romance, que segundo muitos críticos é o melhor de Jorge Amado, não só não deixou a desejar como superou todas as minhas expectativas. Esperava algo como Tieta ou Dona Flor, obras mais conhecidas do autor, mas encontrei um enredo ainda mais interessante e uma narrativa muito melhor! Terras do Sem Fim narra a luta por terra e dinheiro e os personagens típicos da construção da Bahia Cacaueira do início do século XX, cenário que Jorge Amado, nascido e crescido em Itabuna, conhecia como ninguém. Não resisti em, como incentivo pra leitura, deixar na abinha "Retalhos" deste blog um dos muitos trechos de pura poesia que entremeiam o pano de fundo de ganância e violência da história ("Era uma vez três irmãs" e "A Mata").
O ALIENISTA (Machado de Assis) - Nessa novela curta e deliciosa, tão boa pros iniciantes como pros iniciados nas obras de Machado de Assisdo, o escritor deita e rola sobre o riquíssimo e instigante tema da loucura com a perspicácia e a maestria de sempre. "O Alienista" é um livro que, entre outros brindes, abala as falsas seguranças de nossa normalidade. Por incrível que pareça, em vários momentos dos vários dias que se seguiram à leitura desse livro, eu de repente me percebia na mente do Dr. Simão Bacamarte examinando com olhos de lince as loucuras minhas e alheias. Sem falar que essa foi apenas uma das muitas brincadeiras que Machado propôs com esse livro!
MULHERES QUE CORREM COM LOBOS
Um dos livros mais importantes em minha vida. Fundamental para qualquer mulher. Além de lindíssimo, fala do essencial.
As viúvas das quintas-feiras, da argentina Cláudia Piñero.
Irônica homenagem à mentalidade da “elite” latino-americana e a exposição da sua enorme e paradoxal fragilidade ideológica, social e psicológica.Convite à revisão de nossos valores. Sem perder o prazer de uma ótima escrita, que interessa ao leitor desde a primeira página! (Tanto que o livro já virou filme!)
Dois irmãos - Obra de densidade rara na literatura atual.
Narrativa rápida e envolvente.
Descrições maravilhosas, que convidam a conhecer Manaus e sua história.
Intensa trama psicológica. Vale a pena.
Machado de Assis é, sem dúvida, um dos meus escritores favoritos, se não for o favorito. Seus contos são verdadeiras obras-primas e é difícil citar apenas alguns, quando na verdade se quer citar todos. Ainda assim, ficam aqui algumas sugestões representativas de seu gênio, imbuído de ironia, melancolia, mas também, quem sabe, de condescendência com a natureza humana. Cito os seguintes: Missa do Galo, Entre Santos, A Cartomante, O Enfermeiro, Uns Braços, A Causa Secreta. Os cinco últimos foram publicados no livro Várias Histórias, em 1896 e o primeiro publicado pela primeira vez em 1893 e incluído na primeira edição de Páginas Recolhidas, em 1899. Comece com esses e depois você vai querer ler toda a sua obra (principalmente as da 2a fase do escritor). [Marina Procópio]
Enteado - Juan José Saer. (1983) - Esse texto de Saer é ambientado na Espanha e na América do século XVI e trata das recordações de um ex-grumete da armada espanhola que foi capturado por indígenas de uma tribo americana chamada Colastiné, e é obrigado a nela permanecer, como expectador da vida social daquele povo, durante 10 anos; resolve, na velhice, rememorar tais acontecimentos, principalmente o ritual anual de canibalismo da tribo. Segundo a revista Veja, Saer se baseou em acontecimento verídico, acontecido em 1516 com o grumete Francisco Del Puerto, que viveu mais de 10 anos entre indígenas na Argentina. A similaridade histórica, como também afirmado pela revista, termina aí. E, de fato, o personagem, único sobrevivente da expedição - já que assim o permitiu a tribo indígena - presencia o seu peculiar recato e controle social rígido nas relações cotidianas transmudar-se, por apenas uma vez em cada ano, num ritual canibalísco em que se escancaram instintos comumente reprimidos; um frenesi catártico de purgação e liberação das paixões e tensões represadas. Vale a pena. [Marina Procópio]
Grande Sertão:Veredas - Guimarães Rosa. (1956) - Grande Sertão: Veredas é um livro para ser lido muitas vezes; a cada vez, você descobre uma nova história. A primeira leitura é maravilhosa e acho muito importante que o leitor desconheça seu final. Depois virão outras leituras, cada uma revelando uma face do livro não vislumbrada na leitura anterior. Ainda bem que a nova geração que está por aí não viu a adaptação da Rede Globo para o livro, que além de não dar conta, nem de longe, da complexidade da história, ainda revela o final que o próprio autor pediu que não fosse informado aos potenciais leitores. Leia, leia, leia, e fique tentado a negociar sua alma com o diabo pra conseguir se expressar como esse genial escritor. [Marina Procópio]
O Evangelho Segundo Jesus Cristo - José Saramago (1991) - Livro de leitura imprescindível, divisor de águas. É uma pena que não teremos mais obras-primas do Saramago, que daqui se foi no dia 18 de junho de 2010. Ficam as muitas obras já produzidas, pra gente ler, reler e serenar. (Marina Procópio)
Gosto muito de contos, de sua densidade e grande carga poética. Queria desmistificar um pouco o Jorge Luis Borges, escritor argentino, que muito embora tenha contos bastante simbólicos, realmente difíceis de entender numa primeira leitura (ou até numa segunda ou terceira) tem outros relativamente simples e muito, muito belos.
Deixo aqui a sugestão de quatro, que adoro:
O Aleph, também título do livro publicado em 1949, que pra mim retrata a beleza e estranheza do mundo para Borges.
O Outro, escrito em 1969, faz parte d'O Livro de Areia, onde o autor fala de seu encontro com ele mesmo (ou com o outro) quando jovem.
A Casa de Astérion, publicado m 1949, também n"O Aleph", onde Borges narra a história do Minotauro sob o ponto de vista do monstro. Muito poético.
O Livro de Areia, também título do livro, de 1975, em que ele fala de um livro sem começo nem fim. Talvez uma metáfora do conhecimento.
(Marina Procópio)