O contemporâneo surpreende. E suas intermináveis campanhas publicitárias em favor da ecologia suscitam reflexão. Agora, em minha cidade, não há mais sacolas nos supermercados e as que existem são biodegradáveis, custando R$ 0,19 cada uma: lei municipal.
Ao que me pareceu até agora, a iniciativa legal causou mais resultados do que tantas campanhas de marketing e lançamentos de modernas bolsas ‘ecológicas’. Estamos usando menos plástico. E mesmo para aqueles que preferem pagar pela embalagem, o consumo diminuiu, ao economizar colocando mais produtos na mesma sacola.
Entretanto, ainda precisamos pensar que o lixo antes nelas colocado terá que ir para algum lugar. Quem sabe sacolas de plástico, próprias para dejetos e que, curiosamente, não são biodegradáveis, mas são igualmente vendidas? Também os sacos de plástico para “sacolão” continuam sendo utilizados. E sem biodegradação!
Quantos mercados ainda serão descobertos, obrigando-nos a gastar o que não temos? Inclusive com suas indispensáveis publicidades? Tornando-nos cada vez mais caros? Mais consumidores?
Esse é outro pedaço da questão, que ainda não solucionamos.
Pois é. Ainda me recordo (e nem sou tão velha assim) de ir ao supermercado com um engradado vazio de reutilizáveis garrafas de vidro e de trocá-las pelos mesmos recipientes, cheios. Estávamos todos acostumados a essa lógica que, aos olhos de hoje, soaria absurda em função do “trabalho” que dá! Ainda que fosse um trabalho que não sujava o mundo...
Nunca compreendi a introdução de garrafas “pet” no planeta...
E sobre os desperdícios da nossa geração? Compramos belas caixinhas de plástico e jogamos as que embalam alimentos fora, quando elas resolveriam perfeitamente a nossa necessidade de recipientes! Há quanto tempo não vejo sacolas de papel ou alimentos embalados em jornais? E restinhos de sabonete juntinhos, formando um “sabonetão”, perfeito para uso? Copos de requeijão em casa? Já era! Cafona demais!
Mais bonitos, mais poluidores e mais superficiais. Esses somos nós, hoje.
Acredito em iniciativa e conscientização individual, não me entendam mal. Mas para várias questões (e o exemplo da sacola de supermercado em minha cidade demonstra isso, afinal, da noite para o dia, elas deixaram de existir!), proibir atinge finalidades que incontáveis campanhas publicitárias buscam há anos, sem o mesmo sucesso (além de ser mais barato...).
Entretanto, precisamos proibir direito. Encontrar alternativas sistêmicas e integrais ainda é um desafio, afinal, sacola de supermercado não pode, mas sacola de sacolão pode e sacola comprada pode?!
Melhor teria sido proibir as sacolas de plástico, todas. E criar uma maneira racional para enviarmos o lixo de nossas casas para o lixo de nossas cidades e daí para a reciclagem, da maneira menos dispendiosa para o ambiente possível. Investir em energia limpa.
São soluções possíveis ao Público, não aos indivíduos. Por mais complexa que tenha se tornado nossa sociedade, dentro dela o Estado ainda tem maiores responsabilidades, mas também maiores possibilidades de êxito.
O impacto sobre o planeta pode ser maior e ele ficaria mais feliz com menos lixo.
E nós, pessoas, ficaríamos mais felizes com menos informações, falsas necessidades e demagogias.
Ecológicos eram nossos avós. Sem desperdícios ou alardes.
[Juliana]
*foto tirada do maravilhoso trabalho de Vik Muniz
Gostei Juliana,
ResponderExcluirAchei tudo que você escreveu tão a sua cara!
E adorei o trabalho do Vik Muniz (que eu amo) e a fotografia do Manoel de Barros.
Também acho mesmo que ecológicos eram nossos avós (e meus pais, que tem a idade de seus avós).
Beijos grandes,
Oi Juliana, muito bom!
ResponderExcluirPrecisávamos era de um Vik Muniz para fazer arte com os nossos péssimos hábitos.
Meu irmão Mauro leu seu texto e mandou pra mim uma entrevista sobre a matéria. Deixo o endereço eletrônico aqui, pra quem se interessar. E muito bacana.
ResponderExcluirhttp://www.pucrs.br/mj/entrevista-06-2009.php
Muito bom, D. Juliana!
ResponderExcluir"Todos estão preocupados com o mundo que vamos deixar para nossos filhos, mas poucos estão preocupados com os filhos que vamos deixar para o mundo".
"Devemos ser a mudança que queremos ver no mundo" (Gandhi)