É uma vez um tal Dom. João 2, velho esperto, põe seu bando pra rodar. E acha logo terra nova, boa pra grilar. Mas a onda se espalha. E a patota vizinha vai de quebra. Bota logo seu Colombo pra navegar. Dom descobre a trama. Mas não quer arranca rabo. Propõe parceria e racha a área com os espanos. Só que ele quer mais um pouquinho. Resolve então dar um jeitinho. Propina o papa. E estica pra esquerda sua metade direita do mapa. Nisso aí surrupia o melhor produto. Com expedição de fachada, domina o fruto. Padre, colono e escrevente. Berro, papel e caneta. Na moral, agora é legal. Tudo no nome de Portugal.
Pr’ocupar o ponto, Dom manda a gangue. Sangue do sangue. Bons de bico e bons de briga. Crocodilar os donos do lugar. Lero de padre, cacete ou corrente. O negócio é dominar. Açúcar, ouro ou diamante. Tirar o que dá. De tanto dar no trampo, os índios dão pra afrouxar. E a onda vira os pretos, que vêm com os traficas no cabresto, sem poder negar. A boca vai bem, mas de longe Dom manda o recado. Exige o preço e sobe o bicho. E os colonos começam a sonegar. Os pretos também pedem pagamento, que vem a pau e chicote. É aí que eles aprendem que ganhar é depenar. E o cano vira regra, nesse tumulto de lugar.
Apertado pelo bando, o Dom daqui pressiona o de lá, que resolve liberar. A tramóia vira país, pronto pra estourar. Mas a carne é pouca e urubu é muito. Todo mundo querendo tirar. Coisa pública vira negócio e negócio sério exceção. Passa tempo e vem o nó. E Isabel tenta aliviar. Os pretos agradecem, mal sabendo da armação. “Dona Fulô, seu lugar inda é cozinha. Mas pra dormir, subir ladeira e bater lajão. Ô nego, também tá sem opção. É pegar ou largar. Construção, samba ou confusão”. Cá embaixo ou lá no morro, vai crescendo a ladroagem. E bacana romantiza, dizendo que é malandragem.
Como canta o brother Gerson, a parada é a vantagem. Pro Nabuco, da Pedreira, é o bagulho e o trabuco. Em Brasília, o Hiderlindo vai de voto e parceria. Seu Zé Pedro, lá da Ilha, é mais valia e nota fria. E o Joãozinho, muito esperto, logo aprende a lição. Frita a tia, janta a aula e vai chapar lá no Morrão. Só que a grana um dia acaba. E o lance é dar de Dom. Pro sinal desce o Joãozinho, o calibre é três oitão. Seu Zé Pedro é quem samba, e vai correndo pro polícia. Mas o polícia é da boca, do Nabuco e da missão. O que sobra é o colega da santa repartição. Mas, com grana e trampo certo, negócio dele é morcegação. Seu Zé Pedro lembra então da última eleição. Já era, cidadão. O seu voto é do Hiderlindo. O ramo dele é corrupção. E assim continua a sacanagem. Cada um por si e o diabo por todos, no país da malandragem.
[Poly Jeha]
Eu fui fazer um samba em homenagem
ResponderExcluirÀ nata da malandragem
Que conheço de outros carnavais.
Eu fui à Lapa e perdi a viagem
Que aquela tal malandragem
Não existe mais.
Agora já não é normal
O que dá de malandro regular, profissional
Malandro com aparato de malandro oficial
Malandro candidato a malandro federal
Malandro com retrato na coluna social
Malandro com contrato, com gravata e capital
Que nunca se dá mal
Mas o malandro pra valer
- não espalha
Aposentou a navalha
Tem mulher e filho e tralha e tal.
Dizem as más línguas que ele até trabalha
Mora lá longe e chacoalha
Num trem da Central. (Chico Buarque)
É minha amiga, realmente essa história é velha, muuuito velha!.
Beijocas,
Plin! Que escrita bem feita! É, temos muito com o que nos preocupar! Nada disso passa desapercebido. O que me conforta é que temos também dado passos claros em outra direção. E batemos cabeça, erramos, mas o melhor: não desisto de acreditar nesse país que, com todos os seus defeitos, dá mostras claras de que há também uma outra face que se desenvolve, progride e vai em frente. Mesmo contra todas as expectativas! Mesmo com toda a torcida contra! J.
ResponderExcluirCaramba Poly, custei a entender o texto. Mas, quando compreendido, ele exala uma beleza diferente...a textura do texto é, digamos, "andrógina"...rs...
ResponderExcluirAlém disso, mostra uma mensagem com conteúdo, e uma capacidade de síntese maravilhosa! Cada palavra foi muito bem colocada (ao estilo Malick).
Em resumo, uma ode à inteligência escrita.
Parabéns! E que os "não corruptos" possam dia-a-dia vencer essa dura batalha.
bjs
jehao
Pupi, excelente texto!! Retrata, em poucos parágrafos, a história cultural desse país... Mas como disse a Jota no post acima (e sei que vc compartilha isso): somos otimistas!! E segue a luta! bjucos
ResponderExcluirPoly, magnífica aula de História. Com ludicidade, crítica e análise, sua apreciação é capaz de despertar o mais sonolento dos alunos e fazer com que ele escolha ser um cidadão do bem. Parabéns e obrigada pela explanação, Marta Cantalice.
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