A cada dia, a cada nova previsão de gastos, fico mais perplexa. Poderá alguém impedir a loucura que está sendo cometida?
A Europa prestes a explodir em uma crise sem precedentes e nosso país "investindo" bilhões de reais na ilustre missão de sediar a copa do mundo de 2014.
Se pelo menos ainda tivéssemos um bom futebol!
A julgar pelas últimas apresentações da nossa "seleção canarinho", há muito, a tão afamada camisa amarela amarelou! Perdemos o brilho, a graça, o amor ao país, o respeito pelos adversários e a cumplicidade com a bola.
Não é preciso ser nenhum gênio para se chegar à conclusão de que os reais gastos com o evento seriam melhor aproveitados se revertidos em investimentos na educação, saúde, moradia, segurança, transportes.
São 23,7 bilhões de reais previstos para serem aplicados em obras de infraestrutura. Deles, apenas 590 milhões foram efetivamente investidos. Há obras com indícios de superfaturamento, estádios superdimensionados, desorganização administrativa e, aliado a tudo isso, o atraso no cumprimento do cronograma.
Diante dessa previsão de gastos sinto calafrios. Quem não se lembra do Pan-Americano no Rio em 2007? Foram gastos 4 bilhões de reais. DEZ vezes mais que a previsão inicial. Que os céus nos protejam!
E nossos aeroportos, porta de entrada para as pessoas do mundo inteiro que invadirão o Brasil para assistir aos jogos? Por experiência própria sabemos que eles já não dão conta da nossa própria demanda interna.
Então, vamos modernizá-los e tudo vai dar certo! Correto? Não. Nove dos treze aeroportos que servirão ao evento, segundo um estudo realizado pelo IPEA, não ficarão prontos a tempo para a copa de 2014.
O governo brasileiro, numa tentativa desesperada de reverter a situação, transferiu para a iniciativa privada, a partir do segundo semestre de 2010, a gestão dos maiores e mais lucrativos: Viracopos, Guarulhos, Brasília, Galeão e Confins. Golpe de mestre! Problema solucionado? Não!
Com essa concessão, realizada mesmo após um relatório elaborado pela Infraero, que refutava inteiramente a medida, a gestão dos aeroportos menores e menos lucrativos, mas nem por isso, menos essenciais à economia do país, fica a cargo do Estado.
Resumindo a lógica capitalista: à iniciativa privada o lucro, ao estado, o gasto. E falo de gasto, queridos amigos, desnecessário! Antes da transferência anunciada pelo nosso governo, os pequenos aeroportos eram geridos por empresas públicas e financiados pelos lucros dos grandes aeroportos.
Ah o futebol! Nobre esporte nacional!
Tão nobre esporte tem como entidade responsável por sua organização e controle a poderosa e milionária FIFA - hoje afundada até o pescoço no maior escândalo de corrupção de sua história (sinto pena de nossos patrícios Renato Teixeira e João Avelange! Apanhados de surpresa nessa 'desconfortável' situação!).
E é essa entidade que dita regras acatadas por nosso Brasil. Tão servil e tão disposto a sediar a copa mundial! Acatamos utilizar, para esta copa, doze cidades-sede quando em copas passadas (EUA e África) apenas nove foram suficientes. Acatamos construir novos estádios ao invés de reformularmos os estádios já existentes. Acatamos tudo! Só o que nos importa é sediar a copa do mundo de 2014!
Apenas para se ter noção do tamanho da maluquice, seguem os valores previstos para gastos com alguns dos estádios que receberão os jogos da copa: Estádio Nacional (DF) - 670 milhões; Mineirão (BH) - 666 milhões; Arena Pantanal (MT) - 355 milhões; Arena Pernambuco (PE) - 532 milhões; Beira Rio (RS) - 290 milhões; Fonte Nova (BA) - 591 milhões; Estádio do Corinthians (SP) - 1 bilhão; Arena da Baixada (PR) - 220 milhões; Arena das Dunas (RN) 400 milhões.
E, se pelo menos, nossa seleção jogasse como o Barça
Mas parece inevitável a loucura. Então, que venha a copa! Que venha a Espanha! Que sejamos felizes!