Compartilho com você um caro aprendizado, que lhe trago em forma de depoimento e, depois, apelo.
Entrar novamente no mundo do "era uma vez..." foi, pra mim, de certo modo, voltar a viver. Foi unir, como convida Machado em Dom Casmurro, esta e outras pontas à primeira ponta da minha vida: as deliciosas histórias entoadas por mamãe e minha vó Maria e, depois, as minhas aventuras de criança ao lado do meu ursinho Pimpão. Do aconchego das histórias da mãe e da vó, creio que você se recorda bem. Mas se você não se lembra do Ursinho Pimpão, canção que eu ainda bem pequenina ouvia incansáveis vezes da vitrola de meu pai ou do violão de meu avô e que, hoje eu sei, entoou minha infância e meu coração, aí vai:
"Vem meu ursinho querido
Meu companheirinho
Ursinho Pimpão
Vamos sonhar aventuras
Voar nas alturas
Da imaginação
Como na história em quadrinhos
Eu sou a Sininho
Você Peter Pan
Vamos fazer nossa festa
Brincar na floresta
Ursinho Tarzã
Enquanto o sono não vem
Eu sou Chapeuzinho
Você meu galã
Dança também (Pimpão)
Pelo salão (Pimpão)
É tão bonita, nossa canção
Manhã já vem (Pimpão)
Dorme Pimpão (Pimpão)
Urso folgado, não tem lição
Vem meu mocinho querido
Ator preferido
Da minha estação
Vou te sonhar colorido
Pegando bandido
Na televisão
Vamos deixar o cansaço
Dormir num abraço
Meu velho amigão
Não fique triste zangado
Se eu viro de lado
E te jogo no chão
Ah! Meu ursinho palhaço
Seu circo é um pedaço
Do meu coração
Dança também (Pimpão)
Pelo salão (Pimpão)
É tão bonita nossa canção
Manhã já vem (Pimpão)
Dorme Pimpão (Pimpão)
Urso folgado, não tem lição"
Pois é. Esse mundo que fica alhures, entre o real e o imaginário, entre o físico e o sonho e que era alimento pra minha mente e pra minha alma, infelizmente, há muito eu o havia deixado. Em grande parte, auxiliada pelo saber quase exclusivamente científico das escolas e faculdades, somados à insegurança e à necessidade de afirmação de uma adolescente no mundo.
Mas foi há mais ou menos uns três anos, quando começou a bater o cansaço de todos aqueles saberes pretenciosos e não tão verdadeiros assim, que esse mundo de histórias fez-se de novo música pros meus ouvidos. Ouvi. Deixei ouvir. E então me deixei levar. Sorte a minha, que conquistei de volta a minha própria história e, de quebra, o veludo das vozes da mãe e da avó, o brincar mais gostoso, as lições mais sábias e o meu - agora prometo - inseparável amigo, Ursinho Pimpão.
Fica aqui o meu pedido encarecido a mães, pais e avós: não deixem de contar histórias a seus filhos e netos. É por meio das vozes, olhares e gestos vindos do lar que as crianças se tornam íntimas desse universo do "era uma vez...", que depois os transporta com facilidade para os livros, os filmes, as outras formas de arte e de vida.
Não deixem que o saber científico ou mesmo filosófico ou religioso suplantem em nossas crianças a imaginação e a extrema liberdade que dela provém. Os saberes não se excluem, se complementam. E como bradava Emília, personagem encantadora de Lobato que personificava a imaginação: "Eu sou a independência ou morte!".
Também não percam, pais e avós, a oportunidade de ensinar com as histórias e, assim, dar vida nova aos tesouros da nossa cultura. Acreditem, contar histórias é talvez a forma mais eficiente de repassar o saber, já que, por meio delas, não só crianças mas também adultos aprendem brincando.
Por fim, não privem seus filhos e netos da expressão dos seus afetos por meio da palavra oral ou escrita, cujos primeiros passos estão nas histórias, porque ela é raiz do diálogo, do entendimento e da paz.
E viva o poder das histórias!!!
[Poly Jeha]
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