Eleições responsáveis pelo desencadear de questionamentos individuais que, até então, permaneceram inéditos em meu coração.
Sempre fui contra qualquer forma de discriminação, mas, até ser mãe, nunca havia sentido na pele quaisquer dos tipos de suas mutações.
E talvez influenciada pela sutil e profunda mudança do inconsciente coletivo da sociedade em que me encontro inserida, estivesse excessivamente orgulhosa e esperançosa com os rumos tomados pelo mundo e, sobretudo, pelo meu país. País este que, pela primeira vez em sua história, portou-se como um dos protagonistas deste processo global, assumindo importância jamais imaginada por nós, reles brasileiros.
Afinal, estamos historicamente acostumados à lógica da subserviência. Lógica esta que nos presenteou com olhos que enxergam de baixo para cima e de cima para baixo.
Triste e doentio olhar do qual nasceram (também) preconceitos – transformados, por aqueles que os compartilham, em verdades inquestionáveis.
Da conclusão surge possível resposta para minha espantada pergunta: por que, ao votar, as pessoas defendem idéias destituídas de lastro? Por que acreditam mais no que se fala e menos no que se faz? Por que resultados concretos nada dizem a elas?
E ao vivenciar um processo eleitoral esvaziado, pautado em discussões estéreis e exclusivamente centralizado na figura individual de seus candidatos, fui obrigada a refletir. Afinal, muito pouco daquilo que considero importante em um processo eleitoral estava sendo realizado. De quanta fragilidade padece nossa democracia!
As grosseiras acusações à candidata Dilma (que, em parte, tem relação com o seu gênero), o lamentável papel de parte significativa da igreja católica deste país, que, ao contrário do que prega, fomentou ódio e discórdia, aliados ao já comezinho desserviço que a imprensa nativa nos presta, obrigou-me a rever parte dos conceitos pessoais que tinha sobre nós, brasileiros. Nós que somos um povo e uma nação, mas, sobretudo – e a despeito da infelicidade desta conclusão para alguns – uma raça.
Senti-me envergonhada por ser parte do coletivo que se recusa a discutir tão fundamental questão como o aborto, que se sente tão incomodado com o fato de que parcela significativa dos seus integrantes ascendeu socialmente, que admira tanto a situação do povo da Noruega, mas não a deseja para o Brasil, que tem sede de justiça desde que não seja a social.
Afinal, o sonho da minha empregada doméstica não tem a mesma legitimidade do meu. Para que ela quer ter duas televisões em casa e de onde recebeu a permissão para sonhar que seu filho entre na universidade? Onde aprendeu a exigir direitos?
Quebrada (em tão pequena parte...) a barreira social que nos separava, fomos obrigados a expor o que nossa privilegiada situação de desigualdade blindava: não gostamos de raças misturadas, não gostamos de mulheres (sobretudo se estiverem no poder), não gostamos de empregados que nos olham de frente, não gostamos de outra religião que não seja a nossa, não gostamos de ser povo.
Enfim, não gostamos de nós.
Histórica ferida a ser ainda curada.
Precisamos, urgentemente, nos revisitar e rever: como indivíduos e como sociedade.
Contudo, o resultado das eleições, a despeito do seu processo e de seus paradoxos, mostrou que a vontade de grande parte da nossa brasileira raça é de superar verdades que, olhando com olhos que enxergam horizonte e horizontal, não são tão verdades assim. [Juliana]
Juliana, durante essa campanha presidencial também fiquei decepcionado quando percebi que a ideia de "candidata do mal", iniciada pela propaganda eleitoral, divulgada ferozmente pela "imprensa nativa" e imposta por parte da igreja, repercurtia no eleitorado. Felizmente isso não foi determinante na escolha do próximo presidente. Porém, como muito bem colocado por você, revelou que a sociedade brasileira possui feridas que precisam ser curadas, a fim de que se orgulhe de ser um só povo, nação e raça. Parabéns.
ResponderExcluirOi Juju, acho que ainda precisamos caminhar muito... mas já demos o primeiro passo. Parabéns pelo texto. Beijos, Pati
ResponderExcluirTia Juju,
ResponderExcluirvocê brilha nesse blog!!!!! Flá