terça-feira, 6 de abril de 2010

APRESENTAÇÃO


Tem muitas coisas que a gente aprende pelo seu avesso. Eu, por exemplo, acabei me descobrindo muito didática. Acho que a minha dificuldade de entender as coisas, sendo nova num velho mundo, só era superada quando a explicação do fato vinha desde a origem, o que, confesso, tornou bem mais difícil meu processo de aprendizagem. Já pensou? Professora, porque que o "a" é letra? De onde é que essa letra veio? Por que que chama vogal? Por que não é consoante? E a professora, infeliz, ou teria que me explicar a origem da letra "a", da qual ela provavelmente não tinha a menor idéia, ou teria que me falar, compreensivelmente - já que ela tinha que atender a mais uns 40 alunos - que o "a" é letra e pronto e que é vogal porque não é consoante. Explicação pouco convincente, mas, na verdade, suficiente para todo mundo aprender a ler e escrever. Até pra mim, com um pouco mais de dificuldade.

Pois é. Só que eu nunca me libertei desta precisão, que acabou gerando em mim seu oposto: gosto de explicar, tim-tim por tim-tim, pra não ficar nenhuma dúvida.

Assim, preciso explicar pra vocês - nossos inúmeros leitores, tenho certeza - que somos quatro, quatro mulheres entre os 20 e os 50 (um pouco mais, um pouco menos) que resolveram escrever, nessa coisa maravilhosa e acessível que é o blog, suas impressões sobre tudo, mas cada uma da sua maneira, porque, vocês sabem, cada um recebe o mundo de um jeito. Por isso, os retalhos, que a gente vai tentando emendar, se possível.

Não vou falar pra vocês sobre cada uma, essa é uma tarefa singular, mas é imperioso - pra mim, pelo menos - me situar, pra que vocês possam ter uma idéia do que vem por aí.

Tenho três obsessões: me conhecer, emagrecer e não envelhecer (não necessariamente nesta ordem). Risíveis, mas me perseguem. Devo confessar, também, que sou um tanto quanto melancólica.

Duas coisas têm me salvado: os livros e os antidepressivos. Uso sempre um ou outro, ou os dois, concomitantemente. Por isso, em tudo que eu escrever se manifestarão outros escritores, já que sou deles uma espécie de filha adotiva, ainda que me reneguem. Não direi nada sobre os antidepressivos; sua especificidade científica foge da minha alçada. Mas talvez, sei lá, mesmo sem perceber eles falem por meio de mim: é que às vezes, ao contrário, penso que antidepressivos são pura poesia.

E, à moda de Drummond, preciso de todos; por isso  me dispo: eu sou a Marina, nasci em Itabira, ganho impacientemente a vida com o Direito e tenho 46 anos. [Marina Procópio]

sexta-feira, 2 de abril de 2010

NOVATOS


Somos desajeitados. E constantes, claro. Afinal, mesmo com obstinadas decisões em sentido contrário, é praticamente impossível não aprendermos nada de novo ao viver!

Tenho pensado sobre o assunto... Afinal, sou uma mãe novata, de apenas oito meses. E repleta de percepções...

Temos mais idéias e teorias do que vivência. Disso, o lado incrível: o gosto da novidade e o charme da sua descoberta. Nada de monotonia! E o lado não tão incrível: idéias e teorias às vezes servem para encobrir medos que nem se atrevem a chegar à consciência. E por fim, o lado mais incrível: a surpresa. Nada vivido é como o imaginado. Virá daí o “viva o presente, seu nome tudo diz”?

Simples, não? E tarefa para tantas vidas!

Meu atual viver novata trouxe-me esquecidas recordações: músicas inteiras que nunca mais havia ouvido ou cantado; o riachinho mágico do colo da minha mãe; a verruga no pescoço do meu pai. Avós! E tantas outras maravilhas! Sombras: como podem existir? E como são divertidas! Poeirinhas contra o raio de sol... Lindo! Lençóis e cortinas voando... Luzes da cidade passando listradas por dentro do carro... A água e seu barulho, sua maravilha em gotinhas, a tarefa árdua e então possível de pegá-la... Colheres, brincos, reflexos...

Se ter filhos for viver novamente, isso também significa enfrentar-se novamente. Ter oportunidades diferentes. Renovadas.

Eu não esperava por tão delicadas memórias, relembradas através dos olhos de um bebê que mal nasceu e já ensinou tanto: simplicidades, viver o presente, maravilhar-se. Há muito os dias não eram assim, únicos. E como é bom poder viver, mais do que refletir sobre tudo isso. Conseguirei continuar essa hoje relembrada sabedoria ou esquecê-la-ei mais uma vez?

Surge então e finalmente, a coragem desta novata escrita. Uma homenagem, do fundo do meu coração, a três retalhos que colorem e iniciam esta colcha. [Juliana]