quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A PÉROLA DO ROCK


Pra menininha que cresceu ouvindo o som do violão do avô tocando com ternura o leve balanço e a belezura das letras da MPB seria fácil gostar de música latina, de jazz, de flamenco, de fado... Pra adolescente que veio da menininha que ouvia a tia escutar Madonna, música romântica e ouvia também o pai escutar os CD's de clássico que comprava com o jornal de domingo era fácil gostar de pop, de balada e até de música clássica.

Mas e o rock, a música do século 20, garota? Ah, ela até que ia pro rock nacional dos shows de turma. Legião, Titãs, Paralamas, Rita Lee... Ouvia hits dos Beatles, Queen, U2, Cold Play...  Mas não se deixava seduzir não, principalmente se o som era o rock mais pesado dos meninos do colégio. Era tudo muito alto, muito gritado, muito agressivo. Uma outra tribo. Rebeldia demais pra ela.

Veio então um namorado que adorava rock. Ele até curtia música clássica, por causa dos filmes que via com o pai, e pulava axé nos carnavais fora de época de solteiro, mas era rock o que ele mais ouvia. Com os irmãos, com os amigos, no som do carro, era rock o que ele vivia. E foram as baladas do rock do Pearl Jam, sua banda favorita, que compuseram a maior parte do CD de músicas que ele deu como primeiro presente pra ela. Não faltaram, claro, a passional Black, o ninar de Around the band, Light years e a doída Nothingman. No CD de quando estavam longe, Thumbing my way e Come back.

Foi assim, com as baladas e a paixão, que os ouvidos e o coração da moça se abriram pro rock, que encontrou terreno fértil na leve dose de rebeldia que ela adotou por tempero. Numa boa, com ele ou sem ele, no carro ou em casa, ela já se deixava embalar pelo Pearl Jam de Crazy Mary e Yellow ledbetter, pelo bonito canto de amizade de Off he goes, pelo solo fantástico da pobre Daughter, pela violência de Jeremy, pela questão de Alive. E breve, mais que breve, semi-breve, ela cedeu aos encantos do rock mais alternativo e não menos provocativo de Sometimes, Who you are, In my tree, Present tense, I am mine, Of the girl. Às quais depois se somaram as sublimes Long road, Man of the hour e Just breathe, pra não falar da preciosa trilha de Natureza Selvagem.

Com a paciência de um velho sábio, o garoto soube esperar. Já depois de casados, nas muitas horas de estrada que passaram a cantar juntos, foi que ele lhe aplicou as mais pauleiras. E ela simplesmente não teve como não se render ao grito libertador de Given to fly, à voz compassionada de Even flow, ao submundo de Rats, ao desprendimento de Corduroy, ao protesto visceral de Do the evolution.

Faltava ainda uma última coisa pra completar sua iniciação: um show. E ele aconteceu no início do mês passado no Rio de Janeiro. Na companhia do marido e dos amigos, numa arena sob lua cheia, ela se entregou por completo à voz forte e sincera, à guitarra autêntica e à bateria pulsante da pérola do rock. Naquela muvuca íntima dos fãs, ela agora era um deles. Cantava gritando, pulava alto, batia com as mãos no ar, fechava os olhos, rodava a cabeça e se derretia toda em rock. Era muito melhor do que podia imaginar!

No fim do show, ainda anestesiada do rock na veia, ela enfim conseguiu perceber o sentido daquilo tudo. Como tinha conseguido viver tanto tempo sem rock? Como o mundo conseguiu viver tanto tempo sem rock? Como rebelar, revoltar, ir contra, denunciar ou combater de verdade sem o grito forte, o toque veemente, o barulho angustiante e o apelo emocionado do rock, a expressão mais perfeita do nosso lado B de ser? Naquele momento ela soube que, pela mão do seu garoto e do som talentoso e humano de Eddie Vedder e seus companheiros, o rock'n'roll havia entrado de vez na trilha sonora da sua vida, pra nunca mais sair.

E que viesse o resto do rock'n'world! Rolling Stones, Jim Morrison, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Led Zeppelin, Pink Floyd, Nirvana, Metallica, Guns, Red Hot e companhia... Ela já estava pronta. Não por acaso, embalando numa harmonia perfeita os desejos dela, a pérola do rock havia fechado o show do seu batismo com o convite inflamante de "Keep on rockin' in the free world"!
[Poly Jeha]



7 comentários:

  1. Ei Poly, saudades. E eu agora tenho uma amiga roqueira! Mais que roqueira, metaleira! Vi o vídeo que você postou e depois fui no youtube atrás da tradução da letra (sabe como é né, parco inglês) e gostei muitíssimo! A letra é chocante e há também um vídeo que começa desde os dinossauros chegando até nós, os "evoluídos". Muito legal! Se regarmos as passeatas por melhoria dos direitos com rock'in roll é até perigoso! O pessoal pode explodir tudo!!!!rsrsrs.
    Beijão.

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  2. O Rock aqui deve ser com R maiúsculo, da mesma forma como de Deus, para ser proporcional ao que foi sentindo e expresso. By the way, deixo a indicação de meu blog http://rodrezpsic.blogspot.com
    Rodrigo Rezende

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  3. I wanna rock with you... all night... rock the night away... TE AMO!!! Você é a pérola da minha vida! Beijos...

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  4. Poly, só há 2 tipos de músicas: as boas e as ruins. Eu sempre fico com as primeiras. Beijos de Marta Cantalice.

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  5. Popó,
    Me admira perceber o quanto o Rock pode transformar uma pessoa, sabe que aqueles rebeldes sem causa, na verdade tinham causa e esta percepção pelos "novos" Rockeiros é que traz o grito gultural que nos forma multi culturais!
    As experiências vividas por estes grungies foi única, e mostraram que existia o mundo pós Nirvana.
    Eddie Vedder é um cara assim, simples e emotivo, mostra através de suas letras o que de melhor temos.
    Ainda assim, vendo sua "nova" formação, indico que escute os discos do Pearl Jam - Live in Santiago e Live in Porto Alegre, dois épicos do Rock And Roll.
    Aproveite para ver o som do Eddie Vedder em seu disco solo e também o Serj Tankian - Elect The Dead...
    Ainda assim é bom afinar os ouvidos com Pearl Jam - Live in Buenos Aires ( pra mim, um dos melhores shows dos caras...), Nickelback, Metallica - Orgulho, Paixão e Glórias - Live in México, Audioslave ( Chris Cornell é um show a parte), The Doors, e por fim o Príncipe das Trevas, o Showman OZZY OSBOURNE!
    Aprovando e apurando os ouvidos verá o que o lema do Rock diz: Never Old To ROCK AND ROLL!
    Ah... Ainda pode escutar alguns bons brasileiros: Marcelo Nova, Ultrage A Rigor, Raúl Seixas, Banda Malcom...
    Enjoy!
    Ah,
    Vê minhas rasuras: www.desejosevirtudes.blogspot.com

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  6. Poly.
    Fantástico seu texto.
    Fantástico poder fazer parte dele e ter vivenciado com o "casal nota mil" o show de batismo!
    Naveguei horas pelo blog e gostei muito.
    Parabéns para você e suas três amigas.
    Bju.
    Negão

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  7. Me senti a menina da estória! Minha relação com o Pearl Jam é muito parecida com a sua. Pena não termos ido no mesmo dia, neh?! Já estou me preparando para o meu terceiro show da banca, no ano que vem, acredita?
    Lindo texto!
    Beijos

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