Este, o primeiro poema que ouvi. Aliás, um soneto, como pacientemente explicou-me minha letrada avó "Lechuga".
O vento eu já conhecia. Primeiro, através do delicado sopro que saía dos lábios da minha tia e em mim provocava gargalhadas (mas isto, quando eu ainda era um bebezinho). Depois, através da janela da sala da minha casa, quando meu pai me levava ali, à noite, para ver as luzes coloridas da minha cidade.
A lua (“crescente”, segundo minha mãe), conheci depois, em um domingo de cigarras, no quintal da minha casa. Estava adiantada, em um céu que ainda não era o da noite. Foi por acaso que a descobri, ao brincar de acompanhar o vôo de um pardal. Aliás, gosto muito desta brincadeira!
E ver a lua... Mais bonita que as luzes da cidade e do teto da minha casa! Tive, inclusive, que empurrar o queixo da minha mãe para o alto, insistentemente. É que, em vez de ver aquela formosura no céu, ela insistia em olhar para mim, vê se pode! Tanta alegria não podia ser só minha, podia?
Porém, foi entre o conhecer o vento e o conhecer a lua que conheci poesias e estrelas... Estas, no colo da mesma tia que me soprava amor. Aquelas, quase no mesmo instante, quando minha avó, percebendo que meu olhar maravilhava, começou a contá-las...
Compreendi, então, como é vasta a galáxia. Maior ainda é o universo, explicaram-me. Assim como me foi explicado que já fui estrela e que voltarei a ser (devo confessar que essa parte não entendi direito).
Mas, as estrelas... Nada pode ser tão bonito! Aquela gentileza do céu entrou dentro de mim, através dos meus olhos de jabuticaba (que ainda não sei o que é) e nunca mais saiu!
Mais tarde e ainda emocionado, soube que o esquecimento dos adultos em me mostrar as estrelas e as poesias, causou-lhes estranha dor (que na verdade não dói da mesma forma que o meu nariz, quando me espatifo no chão). Mas os fez chorar como eu choro!
Ah... Descobri também, dias depois, que na cidade não é tão fácil ver as estrelas, mesmo quando elas já são velhas conhecidas suas. É que as procurei, algumas vezes. Não as encontrei... Será por quê?
Pois bem. Acabo aqui esta pequena parte da minha aventura, que mamãe insiste em chamar de outro nome!
Oh! Esqueci de me apresentar: meu codinome é "Lechugo" e tenho um ano e um mês. O mesmo tempo que demorei para ver poesias e ouvir estrelas...
(Texto do Heitor, postado por Juliana, única que, por ora, sabe escrever)
*título tirado da primeira frase da parte XIII do soneto "Via Láctea", de Olavo Bilac, parte da inspiração desta real história.